O
segredo de Joaquim Barbosa
Diz o
site que a foto foi tirada no momento em que o ministro barroso ia proferir seu
voto, naquela triste tarde de fevereiro, às vésperas do carnaval.
Difícil
é encontrar solidez em tão pífia argumentação: voto a favor da absolvição dos
réus... Mais difícil ainda é explicar tão enigmático olhar: o da foto.
Penso
que nem Morgan Freeman, ator norte-americano, seria capaz de produzi-lo assim, enclausurado
em tão inexplicável dor.
Vi na
expressão também um pouco da mansidão de Nelson Mandela, da perseverança de
Samora Machel e, não poderia faltar, da coragem de Martin Luther King: "Eu
tenho um sonho..." (não é fácil, nos DIAS de hoje, ter um sonho).
Na
expressão de Joaquim, o sentimento que saltou aos olhos foi o do desprezo. Fiz
uma breve pesquisa no You Tube e me
deparei com um vídeo. Nele, o ministro Joaquim dizia algo assim:
Agora há um novo conceito, fantasioso e
discriminatório, para o crime de quadrilha. Segundo o conceito, somente os
segmentos dotados de certas características socioantropológicas, aqueles que rotineiramente
incorrem na prática de certos delitos, como os crimes de sangue ou os crimes
contra o patrimônio privado, são suscetíveis a tal enquadramento. Criou-se, com
isso, um novo determinismo social...
Ao término
do desabafo, lembrei-me do argumento de Edward Sapir, linguista e antropólogo
norte-americano:
Inúmeras atividades operam nas interações humanas
de acordo com um código elaborado e secreto, que não está escrito em parte
alguma, não é conhecido de ninguém, porém compreendido por todos...
Mas o
que esse argumento tem a ver com os votos de absolvição proferidos pelos
ministros? Simples: de nada vale a complexidade e o desconhecimento que as
pessoas trazem em relação aos termos técnicos usados pelos generosos ministros
nos votos; pois tais votos (difícil não notar) foram concebidos em
circunstâncias obscuras, batizados em fontes impuras... Tais circunstâncias (teias
invisíveis) não estão escritas em parte alguma, não são conhecidas por ninguém,
porém compreendida por todos.
Antes
citei Martin Luther King e sua famosa frase... Mas penso que existe outra
frase, também dele, que reflete melhor o que acontece hoje no Brasil. Sem
dúvida é o pior cenário a que uma sociedade civilizada pode chegar...
O que mais me preocupa não é o grito dos violentos,
nem dos corruptos, nem dos desonestos... O que mais me preocupa é o silêncio
dos bons.
Tenho
fascínio por duas áreas do conhecimento: o Discurso e a Física. Das duas áreas
e do assunto proposto (a absolvição) é possível extrair um pensamento:
A
Física é organizada segundo várias teorias, que estão explicadas e demonstradas
em livros específicos, porém desconhecidas pela maioria das pessoas. Já o
Discurso, no caso o discurso jurídico, parece-me que sua força vem daquilo que
ele é capaz de ocultar, com sua característica "gramática do poder".
Assim, a essência do discurso jurídico não está escrita em parte alguma, porém
é compreendida por todos.
Pensando
bem talvez haja um rastro dessa "gramática" num símbolo anacrônico:
veste talar (escura capa jogada sobre o terno).
Poder.
Gramática. Palavra... De um instante, lembrei-me de Cecília Meireles:
Há um nome levado no vento.
Palavra.
Pequeno
rumor entre a eternidade e o momento.
Espero
que tais votos, assim como o vento, não leve embora nosso sonho: o sonho de
construir um Brasil melhor...
Um clique
no mouse e de novo a imagem: reduzida na dimensão, porém dilatada no tempo...
Então reflito: além do desprezo, quase posso adivinhar o pensamento que motivou
tal olhar:
Será preciso sair daqui para despejar o absurdo que
agora mora aqui... Quem sabe em outra presidência.
por Silvio Pélico