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Sobre minha frágil pesquisa
A aula seguia tranquila até o momento em que fiz uma pergunta: Alguém aqui tem a intenção de votar na presidente Dilma?
Súbito, os alunos pararam de fazer as corriqueiras anotações e suas expressões de espanto se voltaram para mim. É que raramente falo sobre política em sala de aula, mas algo que li no jornal "batucava" em minha cabeça: segundo a pesquisa do IBOPE, a presidente Dilma tem 40% das intenções de voto.
Relaxem, disse aos alunos, é só uma pesquisa minha... Não tem a menor importância. Porém, nenhuma mão se ergueu. Por suspeitar de um breve constrangimento, resolvi mudar a pergunta: Quantos aqui estão insatisfeitos com o "governo" Dilma? E todos levantaram as mãos. O processo se repetiu nas duas outras turmas. Durante o intervalo, na sala dos professores, repeti a pergunta. Dos oito, entre professores e professoras, nenhum confirmou a intenção de votar na presidente.
Um dia depois...
Do aparelho de som vinha os belíssimos acordes de Nessun Dorma, interpretada por Pavarotti. Éramos seis, sentados em círculo, degustando um maravilhoso "Aldo Conterno Barolo Colonello 2008". Era mais um encontro na sede da nossa confraria de vinho. Foi então que fiz a inesperada pergunta: Quantos de vocês irão votar na Dilma? As expressões nas faces dos confrades foram assustadoras. Pronto! Agora serei expulso (o assunto política nunca é bem-vindo entre nós). Relaxem, é só uma pesquisa minha... Enfim, os seis disseram que não votariam nela.
Três dias depois, enquanto passava por uma das ruas do bairro onde moro, avistei um amigo de infância debruçado sobre o balcão de uma loja de materiais elétricos. Entrei. Após um longo e caloroso abraço, fiz-lhe um alerta:
— Antes de nos perdermos nos agradáveis momentos do passado, queria lhe fazer uma pergunta...
— Então faça, sou todo ouvidos!
— É que li num jornal sobre uma pesquisa em que o IBOPE informava que a Dilma tem 40% das intenções de voto. Até aqui, na minha pesquisa particular, não encontrei uma só pessoa que me confirmou tal intenção...
Então, delicadamente o amigo passou um dos braços em volta dos meus ombros e conduziu-me até uma mureta que fica ao lado da loja, onde nos sentamos... Sereno e segurando uma das minhas mãos, disse-me:
— Querido amigo, penso que você vive num mundo diferente, numa espécie de bolha, entende? Domingo, lá na quadra da igreja, vai rolar uma "pelada" e, depois, um churrasco. Por que você não aproveita para continuar lá sua pesquisa?
E ali, na mureta ao lado da loja, num instante o amigo se esqueceu da pesquisa e voltou sua atenção para o passado... Não quis insistir, e sai dali sem saber da real intenção de voto do amigo.
No domingo, quando acordei, lembrei-me do convite, mas declinei da aventura... Senti que meu frágil estômago não suportaria um dia digerindo "carne calcinada"...

Itaquera, zona leste de São Paulo, 12 de junho de 2014. Quem sabe seja este o melhor momento para eu continuar minha pesquisa...



Um comentário:

  1. Se eu fosse louco e andasse em uma camisa de força, nem assim votaria nessa dona, isso porque sou brasileiro e ainda acredito que no meu país a maioria tem vergonha na cara e caráter aliado a coragem de mudar o atual quadro político do nosso país..

    Manoel C. Braga

    Jornalista.

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